O Brasil está entre os 15 maiores produtores de ciência do mundo. Só em 2018 os pesquisadores brasileiros publicaram quase 230 novos artigos científicos por dia, nas mais diversas áreas do saber. Esse volume de conhecimento registrado, porém, não tem encontrado espaço coerente nos mass media brasileiros – o que consequentemente dificulta o acesso a esse conteúdo pela sociedade em geral. Levantamento feito entre jornalistas brasileiros apontou que a maior dificuldade de se fazer uma boa cobertura da ciência nacional estava no difícil acesso aos cientistas brasileiros, caracterizados como profissionais restritos a seus espaços acadêmicos de atuação.
Com a proposta de transpor essa barreira a Agência Bori (abori.com.br) é a pioneira e única iniciativa, no Brasil, de intermediação entre os cientistas e a imprensa, selecionando estudos de cientistas que acabaram de ser publicados – ou estão em vias de publicação – e os apresentando à imprensa, como forma de motivar o interesse dos profissionais da imprensa em divulgar resultados, processos e dados obtidos a partir de pesquisa científica.
A Agência Bori faz contato com cientistas a respeito do interesse em divulgar suas pesquisas; orienta pesquisadores sobre como atender à imprensa; disponibiliza em primeira mão trabalhos científicos relevantes; e assim fomenta junto a jornalistas a divulgação desses estudos na mídia. A Agência Bori conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Instituto Serrapilheira, além de ter como parceiro o SciELO.
Nesse contexto, esse trabalho tem como objetivo analisar a atuação da Bori como primeiro serviço oficial brasileiro especializado na intermediação entre os pesquisadores (e seus resultados de pesquisa) e a mídia nacional para aumentar a presença da ciência na sociedade.
O percurso metodológico abrange uma atenciosa pesquisa bibliográfica exploratória sobre comunicação em ciência, superando aqui as dicotomias entre esse termo e a divulgação em ciência. Outro passo dessa pesquisa se dá na realização de entrevistas com representantes da Agência Bori, além de jornalistas e cientistas participantes que aderiram a essa iniciativa como forma de fortalecer o discurso científico no Brasil.
Resultados preliminares apontam para maior estreitamento entre profissionais da imprensa e pesquisadores, a partir de uma relação de confiabilidade mediada pela Agência. Ademais, pelo acesso a informação científica intensa, na fonte primária, a Bori tem se tornado ela também uma divulgadora da ciência com dados em primeira mão – o que acende a atenção de outros meios midiáticos.
Por fim, importante ressaltar que a Agência Bori atua, ainda, em sistema Beta, como um projeto-piloto que pode tornar-se referência no Brasil ou desaparecer por falta de verba. Assim, este estudo contribui para compreender a atuação da Agência a partir das trilhas deixadas por ela até aqui.
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Luiz Cláudio Gomes Maia
Comentó el 11/12/2020 a las 19:43:46
Parabéns pelo trabalho, tem muita pertinencia e a problematica é bem atual. Principalmente em tempos recentes no Brasil onde a mídia tem feito uso de resultados da ciência e muitas das vezes de forma questionável para impor seus argumentos.
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Henrique E. C. França
Comentó el 11/12/2020 a las 20:34:30
Obrigado pelas palavras, Luiz. De fato esse é um tema extremamente pertinente nesses tempos tão sombrios de Brasil. A boa notícia é ver trabalhos como o da Bori sendo feitos. A notícia não tão boa é que os cientistas/pesquisadores ainda não perceberam, de fato, a importância de se aliar a quem faz trabalho sério de disseminação da ciência ao público em geral. Ainda há muita resistência e com isso perdemos todos. Mas são diálogos como esse que nos fortalecem.
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Miquel Duran Portas
Comentó el 11/12/2020 a las 14:35:49
Henrique & Christinne, this is a nice communication. In particular, I wonder whether "divulgation" should be considered in parallel to communication (dissemination might be better). As a scientist, I think that one may communicate research (i.e., discoveries, science advancement), and core/established knowledge. In both cases, on may address several levels of education/understanding, along with several types of receptors.
On the agency you talk about in your communication: can it be considered as a mediator agent? Is that agency composed of journalists/communicators, rather that scientists?
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Henrique E. C. França
Comentó el 11/12/2020 a las 16:49:02
Hello, Miquel. Thanks for your comments. In fact, I agree with you about the therms "divulgation" and "communication". For me, both are the same thing: science communication (or dissemination). There are authors who think differente, making difference betwenn boths, but I don't think it's good. Its really a good discussion - maybe an epistomology discussion.
About the Bori agency yes, It's composed of journalists who have experience in "scientific journalism". Besides that, the own Bori consider itself as a mediator agent. The its role is "to be" like a "bridge" between scientists and media mass.
Onde more, thanks for your comments. As a said, that's a great point.
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Jair Esquiaqui
Comentó el 10/12/2020 a las 14:41:22
Muito obrigado, Henrique, por esta interessante investigação!
Muitas vezes não temos clara a diferência entre Comunicação científica e Divulgação científica, e ainda menos qual deve ser o papel que temos os jornalistas nos dois casos e aqui na sua pesquisa fica bastante bem claro. Fico curioso sobre a segunda parte do seu estudo para conhecer os pontos de vista dos cientistas e jornalistas que se aderiram a Bori para saber se eles certamente têm claro os targets e objetivos da divulgação e a comunicação (como dois processos bem diferentes) e quais são as perspectivas que têm sobre o papel da ciência na vida quotidiana dos brasileiros.
Saudações!
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Henrique E. C. França
Comentó el 11/12/2020 a las 14:28:00
Olá, Jair. Muito obrigado por suas considerações. Particularmente creio que essa dicotomia entre comunicação e divulgação poderia ser superada - quem sabe pensando a divulgação como um braço da comunicação em ciência e não uma outra "categoria" do comunicar. Esse é um bom debate, creio.
Quanto à segunda parte da pesquisa também temos uma boa expectativa quanto às impressões e percepções dos atores envolvidos nesse processo. O que sabemos até aqui é que pesquisadores ainda têm grande resistência em dialogar com mais frequência com jornalistas e com isso perdemos todos. Talvez o trabalho da Bori consiga clarear as funções e possibilidades de uma ponte entre ciência e imprensa.
Obrigado por seu comentário, mais uma vez.
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