CÓD.N08-S04-22-N04-S09-17 ONLINE

Portugal entra em cena. Criar e financiar projetos de dança antes e durante a pandemia

O trabalho contextualiza-se no vasto debate entre autonomia artística e sustentabilidade económica da criação e produção cultural, considerando como algumas formas tradicionais de financiamento para as artes (Klamer, 2011; Colbert, 2007) através do setor privado (mecenato, financiamento colaborativo, criação por encomenda) são readaptadas na era digital em sociedades platformizadas (Duffy, Nieborg and Poell, 2019; van Dijck, 2019; Rouzé, 2019).

 

A crise pandémica exacerbou paradoxos e oportunidades existentes no panorama das artes de palco como os elevados custos de produção e a incerteza da procura (Caves, 2001), os constrangimentos orçamentais e a lentidão de provisão de apoios estatais, as limitações da reprodução e monetização online de projetos concebidos para realização ao vivo (Bilton, 2017), incentivando todavia a multiplicação de partilha de conteúdos online por parte dos agentes culturais (oferta) através de canais de distribuição não tradicionais, como os social media online, massivamente utilizados pelos segmentos da procura (Hesmondalgh, 2020). Se as consequências da digitalização da produção cultural eram ainda reduzidas nos primeiros estádios da cadeia de valor de setores mais resistentes à virada digital, como o da dança (KEA, 2006; KEA, 2017), veio-se reforçando o papel dos intermediários digitais nos processos de distribuição, disseminação e acesso ao financiamento.

 

Pretendendo discutir criticamente a evolução do conceito de empreendedorismo cultural e das suas variantes (Klamer, 2011; Gheman e Soubliere, 2018) identificamos a figura do cultural entrepreneur nos indivíduos que desempenham atividades de criação e de gestão de projetos à procura de oportunidades, enfrentando riscos do empreendimento, esforços no estabelecimento de relações com públicos e financiadores e custos na execução de trabalho sem remuneração garantida.

 

O estudo empírico debruça-se sobre a realidade das plataformas de financiamento privado para a cultura portuguesa, com foco especial no setor da dança. A sua originalidade é destacada por apresentar 1) os resultados da análise quali-quantitativa aplicada às campanhas temáticas de crowdfunding realizadas entre 2017 e 2019 na única plataforma nacional e em seguida 2) um estudo exploratório único da plataforma de financiamento alimentada por capital de empresas privadas #Portugal entra em cena que funciona como vitrine e Marketplace de projetos à chamada, lançada durante a pandemia em 2020 com o avale do Ministério da Cultura.

Os resultados retratam a experiência de utilização das plataformas digitais por parte dos artistas, mediante etnografia digital (Kozinets, 2012) e entrevistas a criadores de projetos (com e sem sucesso no alcance do objetivo financeiro) revelando motivações e as caraterísticas das etapas de desenho e implementação de campanhas, os paradoxos existentes entre oportunidades de visibilidade e dificuldades na monetização do trabalho, os desafios da criação e gestão de projetos lançados em ambientes multiplataforma e avaliados/financiados por investidores de natureza diferente, a centralidade das atividades de networking e reputation management em relações caraterizadas por hybridação e multiplicidade de papeis assim como teorizadas na concepção de empreendedorismo cultural 3.0. (Gheman e Soubliere, 2018).

Palabras clave

dança financiamento privado gestão de públicos plataformas digitais

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Caterina Foa

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