Na atualidade, constata-se amplamente no âmbito do ensino superior, uma conjuntura de uso frequente e, por vezes, velado ou dissimulado de recursos automáticos de tradução, como o Google Tradutor, por alunos das mais diversas áreas do conhecimento. Esta prática muito recorrente justifica-se pela rapidez, gratuidade e avanços qualitativos que os produtos da tradução automática vêm alcançando no cenário contemporâneo. Entretanto, decorrem deste uso exacerbado, produtos de níveis muito variados de qualidade, os quais modificam-se de acordo com o par linguístico em questão, com o gênero, escopo, tipologia textual e estilo discursivo do texto fonte. No contexto das licenciaturas em línguas estrangeiras, observando-se o fenômeno a partir da ótica docente, verifica-se uma postura “ainda” repressiva com relação à utilização dos recursos automáticos de tradução, por razões éticas e justificáveis no âmbito da formação, mas frágeis, se considerarmos o potencial pedagógico e de reflexão que a ferramenta pode suscitar sobre questões relativas à complexidade do uso da linguagem e dos discursos. Esta comunicação tem por objetivo problematizar o uso da tradução automática como efetivo recurso pedagógico nas aulas de língua estrangeira. A pesquisa ilumina as potencialidades implícitas no seu uso e propõe a humanização-didatização da ferramenta Google Tradutor. Partimos das seguintes hipóteses: (i) a ferramenta pode ser de valioso auxílio ao docente se explorada de forma sistematizada, com objetivos pedagógicos claros e bem definidos; (ii) a consciência linguística e a competência bilíngue podem ser amplamente utilizadas na implementação de habilidades pelos discentes por meio de práticas de pós edição. Metodologicamente, propomos uma análise crítico-avaliativa da qualidade da tradução produzida pelo Google Tradutor (GT), considerando o par linguístico português-inglês e o emprego de práticas pedagógicas em fases que antecedem e sucedem a experiência do uso da ferramenta, com foco em objetivos, que corroboram o desenvolvimento de competências nos currículos dos cursos de Língua Inglesa considerando-se a competência bilíngue (PACTE, 2003) e a consciência linguística (DONMALL, 1991; DUARTE, 2008; FAIRCLOUGH, 1992). O corpus constituiu-se de três excertos dos gêneros poesia, bula de remédio e lenda, obtidos do domínio público e traduzidos automaticamente pelo GT. As análises realizadas apontaram para algumas limitações da ferramenta, discrepâncias linguísticas do produto tradutório, manifestas nos componentes: lexical, sintático, semântico e pragmático que impactaram na qualidade do produto textual (KOCH, 1999; TEIXEIRA, 2018). As análises sugerem também, amplas possibilidades pedagógicas de desenvolvimento de competências linguísticas. Os resultados confirmaram as hipóteses de partida, entretanto, as possibilidades formativas revelaram-se muito mais diversificadas do que inicialmente projetado em função das testagens e fragilidades detectadas nos produtos. A título de exemplificação, e considerando as diferentes tipologias textuais, foram verificadas perdas estéticas, distorções em relação ao referente anafórico, ausência de inversões sintáticas, falhas nas concordâncias de número e inconsistências terminológicas. Concluímos que a utilização do GT como recurso de ensino-aprendizagem reforça a interface ensino e tradução. Consideramos produtiva a ação humana no processo de tradução automática, impondo-lhe adequações metodológicas, sistematizadas e monitoradas para corroborar a implementação de competências previstas no currículo e o fomento da consciência sobre a complexidade do uso da língua.
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Tabita Fernandes da Silva Tabita
Comentó el 11/12/2020 a las 13:34:32
Prezada Sílvia Benchimol
Parabéns pela pesquisa tão necessária no atual contexto em que os contatos e interações impelem e estimulam cada vez mais, o uso do GT. Gostei muito de que tenhas chamado a atenção, por meio de pesquisa, como ferramentas tais como o GT podem ser, pedagogicamente, exploradas e o quanto essa análise pode colaborar para descortinar novas complexidades dos processos tradutórios.
Parabéns!
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 11/12/2020 a las 19:09:11
Caríssima Profa Tabita. Obrigada por seu comentário.
Sim, pensamos ser necessário reverter o caris de "perniciosidade" da ferramenta e debruçar-se de forma crítica e analítica sobre suas reais potencialidades.
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Alejandro Carmona Sandoval
Comentó el 10/12/2020 a las 20:54:21
Querida Silvia:
Muito obrigado por sua pesquisa. Compartilho sua opinião de que as ferramentas de tradução não podem ser um tabu para professores ou alunos. Uma atividade muito interessante poderia ser fazer uma "tradução do Google" de uma "tradução do Google". Por exemplo, para o mesmo texto:
1) "Português" => "Grego";
2) "Grego" => "Francês";
3) "Francês" => "Inglês".
4) comparar as versões em português e inglês entre si
¡Os resultados seriam muito interessantes!
Cumprimentos,
[he utilizado Google Translator para este mensagem:)]
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 10/12/2020 a las 21:24:13
Querido Alejandro. Sim! me agrada esta sua ideia. Me parece uma experiência muito interessante que nos permite ver ainda mais questões a serem problematizadas.
Uma experiência que já fiz foi a "back translation". Fazer a tradução entre um par linguístico específico, copiar o produto e ressubmeter à ferramenta. Observei que não há uma correspondência exata entre os dois textos
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Kim Schulte
Comentó el 07/12/2020 a las 14:23:56
Concordo que o Google Translate pode servir como uma ferramenta de ensino muito versátil. Você acha que as traduções automáticas entre línguas mais semelhantes, como o espanhol e o português, têm o mesmo potencial didático?
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 07/12/2020 a las 19:02:48
Olá Kim. Certamente que devem haver multiplos recursos a explorar mesmo com línguas próximas. O que acho bem recomendável é fazer a experiência com gêneros diferentes nas traduções do par lingístico desejado e observar as potencialidades. Há que se considerar o fato dos produtos tradutórios obtidos serem dinâmicos , Não são os mesmos a cada tentativa, pois o GT evolui com a interatividade que possibilita.
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