Ao longo da trajetória histórica da tradução, percebe-se que esta atividade milenar resiste ao estigma de atividade secundária, ou ilegítima que inevitavelmente “trai” o original. Esta constatação está presente em inúmeros escritos filosóficos nos quais pairam a melancolia e a frustração pela impossibilidade de se atingir a tradução perfeita, a língua adâmica, como resultado de um castigo babélico, sempre pautado em um subjugo ao texto original. Contextos mais contemporâneos também atrelaram a tradução à condição de inferioridade ou de prejudicial à aprendizagem, a exemplo da história dos métodos de ensino de línguas estrangeiras onde proliferam ainda intensas críticas sobre o uso da tradução, em função de posicionamentos valorativos sobre a abordagem Grammar-Translation. A autonomização da disciplina científica Tradução ainda resistiu à subordinação estrita aos estudos linguísticos por décadas. Entretanto, o contínuo avanço e desdobramentos dos Estudos da Tradução, elevaram-na ao respeitoso status de atividade mediadora intercultural no campo da Literatura e de responsável pela interlocução científica no âmbito das Especialidades. Holmes (1988) e Toury ([1988 – 1995]) ampliaram seu espectro de forma decisiva academicamente e em meio à trajetória evolutiva dos recursos tecnológicos, o trabalho do tradutor foi irreversivelmente redirecionado e redimensionado (Alcina 2008, Stupiello 2015). Neste cenário, apresentamos este estudo com o objetivo de iluminar uma circunstância inquietante do contexto acadêmico, no qual a tradução se manifesta como recurso subliminar ao plágio velado na construção de trabalhos produzidos por discentes que possuem maestria em uma língua estrangeira e que, recorrendo à competência tradutória, conseguem produzir formas eficazes de camuflagem de textos e ideias originais de outros autores sem a devida referência autoral. Assim, esta apresentação problematiza a utilização antiética da atividade tradutória como recurso pernicioso em trabalhos acadêmicos e reflete sobre os conceitos de paráfrase na tradução interlinguística (Jakobson 2003), plágio indireto (Krokoscz 2012 (a), 2015 (b)) e sobre a utilização de ferramentas tecnológicas de detecção. A metodologia utilizada consistiu na testagem de duas ferramentas antiplágio – Plagly e Plagiarism Checker by Grammarly. Foram realizadas algumas experiências sistematizadas partindo da seleção de um parágrafo de um texto da Internet em língua inglesa publicado pela World Health Organization [WHO] o qual foi objeto de duas traduções “fiéis” para a língua portuguesa, com diferentes níveis de interferência: Nível de Manipulação Menor [NM-] e Nível de Manipulação Maior [NM+]; em seguida, foi realizada a submissão dos parágrafos traduzidos aos programas de detecção. Os resultados obtidos foram registrados e analisados trecho a trecho e de modo geral foram muito similares em relação à superfragmentação dos excertos e indicações de ausência de similaridade. Foi constatada a inacessibilidade da(s) fontes originais de onde, possivelmente, provém o plágio, em razão da incapacidade de programas de detecção em transpor a barreira intercódigos. Este estudo suscita reflexões no âmbito acadêmico e amplia as possibilidades de ocorrência do plágio para além das já conhecidas na literatura. Promove um estado de alerta àqueles que estão imbuídos da responsabilidade de analisar, avaliar e legitimar textos supostamente autorais produzidos por alunos na academia ou autores de artigos para publicação.
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Salud Adelaida Flores Borjabad
Comentó el 11/12/2020 a las 09:34:30
Buenos días,
Muchas gracias por compartir este trabajo con nosotros. Me ha parecido muy interesante y creo que aporta muy buenos puntos de vista, dignos de tener en cuenta. Muchas gracias y enhorabuena.
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 11/12/2020 a las 11:24:59
Querida Salud! Muchas gracias por tu comentario. Creo que si. Son muchos los puntos de debilidad que nos colocan (a los profesores) en una situación delicada en relación a la identificación del plagio
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 07/12/2020 a las 16:16:43
Cara Alessandra, este é um assunto que vem me intrigando há algum tempo por perceber que atos de plágio, por ocasião da transposição interlinguística, ficam mascarados e dependendo exclusivamente da percepção do docente para detectá-los. Sim fiz alguns testes com o i-Thenticate e com o Turnitin também. Os resultados não foram muito diferentes. Eles só detectam alguma similaridade depois de superfragmentar os excertos mas não direcionam para os sites em outra lingua ( não ultrapassam a barreira intercódigos... pelo menos, ainda não). Nesta comunicação eu apresentei apenas duas ferramentas, que são gratuitas e portanto mais acessíveis. Mas tenho uma pesquisa maior nesta temática. Grata por sua pergunta !
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Alessandra de Souza Santos
Comentó el 30/11/2020 a las 03:42:33
Prezada Silvia, muito interessante a proposta do seu trabalho. Realmente é um ponto que deve ser considerado tanto nos processos de avaliação de textos quanto no desenvolvimento das ferramentas de detectores de plágio. Você já tentou esse mesmo procedimento com o i-Thenticate, que possui uma base grande em português?
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 07/12/2020 a las 16:18:29
Cara Alessandra, este é um assunto que vem me intrigando há algum tempo por perceber que atos de plágio, por ocasião da transposição interlinguística, ficam mascarados e dependendo exclusivamente da percepção do docente para detectá-los. Sim fiz alguns testes com o i-Thenticate e com o Turnitin também. Os resultados não foram muito diferentes. Eles só detectam alguma similaridade depois de superfragmentar os excertos mas não direcionam para os sites em outra lingua ( não ultrapassam a barreira intercódigos... pelo menos, ainda não). Nesta comunicação eu apresentei apenas duas ferramentas, que são gratuitas e portanto mais acessíveis. Mas tenho uma pesquisa maior nesta temática. Grata por sua pergunta !
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