Este trabalho propõe uma análise de elementos da Antroponímia tradicional dos povos indígenas Tembé e Ka’apór, com o objetivo de pensar a relação entre a prática tradicional de nomear indivíduos e a visão de mundo desses povos demonstrada no cotidiano das práticas culturais em suas relações com o meio ambiente. Os povos indígenas Tembé e Ka’apór são grupos de origem Tupí e falam as línguas Tembé e Ka’apór da família Tupí-guaraní pertencentes aos subramos linguísticos IV e VIII, respectivamente. Esses dois povos vivem em diversas aldeias da Amazônia Oriental brasileira, nos estados do Pará e Maranhão. O estudo considera o ato de nomear indivíduos como uma prática cultural importante para a afirmação da identidade dos indivíduos, como o é nas demais culturas, com o adicional de que nos contextos de línguas e culturas ameaçadas, como é o desses povos, a prática de nomear ganha uma dimensão maior de importância como reforço da própria identidade indígena. Assim, o trabalho trata dos modos como os povos indígenas Tembé e Ka’apór, tradicionalmente, nomeavam os indivíduos por ocasião do nascimento; analisa motivações na escolha dos antropônimos; discute o lugar de destaque da flora e da fauna nas escolhas antroponímicas e reflete sobre valores e princípios subjacentes à prática de nomear bem como as implicações das modificações ocorridas nessa prática cultural e os impactos para a identidade desses grupos. O trabalho fundamenta-se, teoricamente, em estudos do campo da Onomástica, principalmente, por meio de autores como Vasconcelos (1928), Guérios (1981), Dick (1987), Brito (2003), Simon (2004), Carvalinhos (2007) e Simões (2011). Recorre, também, à linguística indígena por meio de autores como Rodrigues (1984/1985), Cabral (2000; 2003; 2007) sobre as línguas indígenas da família Tupí-Guarani; quanto à língua Tembé, especificamente, consideram-se os trabalhos lexicográficos de Boudin (1966; 1978), Carvalho (2001) e Silva (2010) e, no que toca à historiografia Tembé, as obras de Wagley e Galvão (1995), Gomes (2002) e Zanoni (1999) que trazem uma importante contribuição sobre o percurso desse povo; quanto ao povo e à língua Ka’apór, recorre-se às obras de Kakumasu (1968; 1986; 1988), Ribeiro (1996), Corrêa da Silva (1997), Caldas (2001; 2009) e Silva (2001). A respeito da cosmovisão indígena, as obras de Castro (1996) e Munduruku (2004; 2008), principalmente, são fundamentais. A natureza da pesquisa empreendida é, predominantemente, qualitativa e segue um percurso metodológico que inclui pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo junto aos povos indígenas Tembé e Ka’apór, utilizando-se, principalmente, de dados reunidos, in loco, pela própria pesquisadora, nas duas últimas décadas, oriundos de técnicas de entrevistas, gravação de narrativas orais e anotações em diários de campo.O resultado da pesquisa reforça a forte relação entre léxico, cosmovisão e cultura, evidenciando que, nas comunidades indígenas pesquisadas, a tradição do ato de nomear um indivíduo é uma prática cultural de alto valor identitário, marcada pelo lugar de importância da fauna e da flora como elementos principais que estão na base da motivação da escolha dos antropônimos.
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Silvia Helena Benchimol Barros
Comentó el 11/12/2020 a las 12:03:52
Querida Tabita, a prática de nomeação por parte dos Tembé e Ká'apór segue uma tendência de atribuir referências aos elementos da natureza, o que é perfeitamente compatível com a cultura e cosmovisão destes povos. Minha pergunta é se, em geral, esse tempo de espera pode perdurar pelos primeiros anos de vidas dos netos/filhos quando estes teriam mais elementos que caracterizem sua personalidade ou se é mais comum utilizarem elementos relacionados ao nomeador?
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Tabita Fernandes da Silva Tabita
Comentó el 11/12/2020 a las 13:11:38
Caríssima Sílvia Benchimol
Agradeço-lhe pela pergunta e, no tocante a ela, o que temos observado, com abundância de exemplos, é que o tempo de espera está bastante relacionado à necessidade e à possibilidade de observação de características do indivíduo a ser nomeado a fim de que o antropônimo tenha a associação mais próxima possível daquele que vai portar aquele nome por toda a vida. r. É como se, em outras palavras, a visão de mundo dos Tembé e Ka'apor veiculasse o seguinte: " de algum modo, o antropônimo precisa parecer com o seu portador ou estar fortemente vinculado a ele."
Muito obrigada!
Abraços
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