CÓD.N05-S05-17 ONLINE

A criação lexical como atitude de resistência linguística e cultural

O presente trabalho consiste em um estudo sobre a criação lexical na prática linguística de indígenas Guajajára habitantes da aldeia Angico Torto, situada na Amazônia Oriental brasileira. Tem como principal objetivo refletir sobre a criação lexical como forma de resistência linguística e cultural adotada por esse povo. Associado a esse objetivo, outros podem ser elencados, tais como, analisar a estrutura morfológica dos novos elementos lexicais criados e o campo semântico a que pertencem tais elementos; discutir sobre o fazer tradutório requerido na criação lexical; refletir sobre a emergência do uso dos itens culturais não indígenas no contexto da aldeia e analisar a atitude do falante subjacente à prática da criação lexical. Os indígenas Guajajára são um povo de origem Tupi, falantes da língua Guajajára, pertencente à família linguística Tupí-Guraní, especificamente, ao subramo IV dessa família linguística. Esse povo tem vivido a experiência de contato intenso, desde a colonização da região quando  foram localizados pela primeira vez nos idos do século XVII. Apesar do crescimento demográfico experimentado, os indígenas Guajajára sofrem as pressões da língua oficial majoritária o português, em meio à experiência de bilinguismo vivenciada desde há muito, assim como as perdas culturais das tradições de seus ancestrais, o que os coloca em uma situação de hibridização marcante e verificável em vários aspectos do cotidiano.  Ao lado da pressão linguística e cultural desfavorável à manutenção da língua indígena e dos costumes tradicionais do povo, observam-se modos de resistência desse povo no cotidiano. É esse o ponto central de observação escolhido para analisar o uso da língua e sua relação com as lutas e enfrentamentos do povo Guajajara. Para subsidiar, teoricamente, o trabalho, recorre-se a autores representativos dos três eixos requeridos na discussão, a saber, dos estudos do léxico (Biderman, 1987; Cabré, 1993; Alves, 1996, 2007); das crenças e atitudes linguísticas (Goméz Molina, 1987 e Moreno Fernández, 1998); da tradução (Bassnet, 2003; Franchetto, 2012 e Berman, 2013); da linguística indígena (Rodrigues, 1984/1985, 1986; Bendor-Samuel, 1970; Harrison, 1986; Silva, 2010) e da historiografia Guajajára ( Gomes, 2002; Zanoni, 1999). O percurso metodológico do trabalho envolveu pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo na Aldeia angico Torto, no estado do Maranhão, na região nordeste do Brasil. A aquisição dos dados deu-se por meio de observação participante, com gravação de entrevistas, de narrativas orais e conversas informais, contando com a colaboração de sujeitos indígenas Guajajára, de faixa etária entre 25 a 80 anos.  A abordagem do estudo é qualitativa, sem a necessidade de recorrer ao aspecto quantitativo na análise.  O estudo indica que há razões suficientes para se conceber a prática da criação lexical entre o povo indígena Guajajára como atitude e estratégia de resistência frente à força da língua majoritária e à inevitável presença de elementos culturais sem denominação correspondente na língua indígena.

Palabras clave

atitude linguística criação lexical estratégia de resistência povo Guajajára tradução

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Preguntas y comentarios al autor/es

Hay 5 comentarios en esta ponencia

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      Roger Ferran i Baños

      Comentó el 10/12/2020 a las 12:02:16

      Bom dia e obrigado pela sua conferência.

      Eu gostaria de perguntar se todos os Guajajaras aceitam estas criações léxicas e qual e o sistema que seguem: tradução, calques... E também, esta resistência funciona?

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        Tabita Fernandes da Silva Tabita

        Comentó el 10/12/2020 a las 14:25:47

        Prezado Roger Ferran i Baños

        Bom dia

        Obrigada por sua pergunta. A aldeia Guajajára Angico Torto onde estive fazendo pesquisa, contava, á época, com menos de 250 falantes, tendo uma liderança preocupada com a entrada de empréstimos do português na língua Guajajára, de modo que a criação lexical partia de uma atitude consciente e deliberada, com a predominância do sistema de tradução nas criações . Não fiz uma observação rigorosa quanto à aceitação das criações lexicais por todos os indivíduos , mas até onde pude observar, não havia conflito aparente. Quanto ao uso efetivo das criações lexicais, penso que ocorre a mescla de usos. Considerando que, mesmo com a criação lexical, nota-se a presença de empréstimos na língua Guajajára, a atitude de resistência talvez não detenha o avanço do português, nem garanta a conservação da língua, mas a atitude, em si mesma, é resistência e funciona, sobretudo, porque constitui-se como uma tomada de decisão frente à situação, chama a atenção do grupo indígena para a situação e ensina uma atitude às gerações mais jovens.
        Obrigada por sua pergunta! Coloco-me à disposição para dialogar a respeito.

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          Roger Ferran i Baños

          Comentó el 10/12/2020 a las 15:35:34

          Muito obrigado. Então as criações funcionam só nesta aldeia. É muito interessante porque a adaptação das palavras espanholas ou inglesas sempre é um pouco polêmica para os falantes de catalão e as nossas instituções. Não é o mesmo, mas a dinâmica é parecida.

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      Ivo Buzek

      Comentó el 10/12/2020 a las 11:12:28

      Felicidades por la ponencia y disculpen que les hago la pregunta en español, pero mi portugués escrito deja mucho que desear. Quería saber si los hablantes de estas lenguas indígenas son conscientes no solo de los préstamos léxicos, pero también cómo reaccionan a los calcos (si los hay)? ¿Hay también influencias del portugués a nivel morfosintáctico? Muchas gracias.

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        Tabita Fernandes da Silva Tabita

        Comentó el 10/12/2020 a las 15:05:51

        Prezado Ivo Buzek

        Muito obrigada!

        O grupo de indivíduos indígenas Guajajára com quem travei diálogo em pesquisa de campo e com quem observei e tratei das questões da criação lexical, mostravam-se fluentes tanto no português quanto no Guajajára e bastante conscientes, não só dos empréstimos e decalques do português em sua
        língua, como também da ausência de léxicos correspondentes na língua Guajajára, o que lhe motivava , em muitos casos, a deliberadamente, criar um item léxico que evitasse o uso do português na língua Guajajára. Quanto a interferências do português no nível morfossintático, embora esse não tenha sido o foco de meu trabalho, à época, verifiquei que também há interferências do português nesse nível.
        Muito grata pela questão que me motiva a olhar outros aspectos deste estudo.

        Muito grata!

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